Nesta que foi a primeira experiência no estrangeiro, Diogo Silva defendeu as cores do RK Celje, clube pelo qual se sagrou campeão esloveno e venceu a Supertaça. A época terminou mais cedo para o atleta de 21 anos devido à pandemia do novo Coronavírus que, em entrevista, revela como viveu esta situação naquele país. “Senti o impacto deste vírus desde início, desde logo, porque as as medidas impostas pelo Governo começaram a ser postas em prática muito cedo uma vez que a Eslovénia faz fronteira com a Itália e havia ali uma proximidade nos epicentros desta pandemia. Desde início que começou a haver bastantes cuidados, em especial a quarentena que, a partir do momento em que foi decretada, começou a ver-se muito menos gente na rua. Pouco tempo depois fomos impossibilitados de treinar, por isso, logo aí houve uma grande diferença nas minhas rotinas normais. Apesar de tudo nota-se que as pessoas são muito respeitadoras para com este tipo de medidas e desde o primeiro dia que se via as pessoas a tentar cumprir ao máximo, a sair o menos possível à rua.” – adiantou.
Quando faltava apenas uma jornada do fim da primeira volta, o RK Celje era líder isolado quando as competições foram canceladas. “Nós fizemos o nosso último jogo no dia 11 de março, depois disso fizemos apenas um treino e partir daí foram logo suspensas todas as atividades. Claro que as indicações do clube foram as normais, as que vemos todos os dias nos jornais, sair o mínimo possível à rua e apenas para o essencial, lavar as mãos muitas vezes ao dia, etc. Claro que tivemos um plano individualizado de treino, porque ainda não se sabe ao certo se já acabou a época ou se vai continuar – principalmente por causa da Liga dos Campeões – e fazíamos o nosso trabalho diariamente, saindo de casa por uma ou duas horas só para realizar o trabalho e o resto do tempo era passado em casa e ter todos os cuidados necessários.” – afirmou.
Já em Portugal, Diogo Silva mostra-se agradecido ao clube esloveno ao qual esteve emprestado pelo FC Porto Sofarma pela forma como a instituição o ajudou em todas as etapas da temporada. “Desta experiência, uma coisa importante a retirar, é que o clube em questão foi sempre espetacular comigo, deu-me sempre todas as condições, dentro e fora do campo, para eu estar super confortável. Mais uma prova disso é que foram eles os primeiros a vir falar comigo, assim que se soube desta situação, a lamentar o facto de eu ter que permanecer na Eslovénia durante mais algum tempo enquanto não se sabia ao certo o que é que iria acontecer em relação às competições. Eles disseram que, assim que fosse possível, entrariam em contacto comigo para marcarmos tudo para eu poder regressar e assim foi. Mal saiu a notícia do término do campeonato recebi logo uma chamada por parte do clube no sentido de marcarmos tudo o mais rápido possível, uma vez que não se sabe se num futuro próximo seria possível fazer esta mesma viagem.” – revelou.
Depois do regresso ao nosso país, o lateral português revela que não sofreu muito com a distância em relação à pandemia. “Durante o ano todo vivi sempre sozinho, por isso já estava habituado a lidar com a distância, apesar de tudo. Ter que estar mais isolado em casa ou não poder treinar com o resto da equipa afeta sempre alguma coisa, claro, mas já estava mais ou menos habituado. Obviamente que faz diferença estar em casa e não ter a companhia da família, por isso senti um bocadinho mais esta situação pela distância. Mas nesse sentido, o clube desde o inicio que disse que, assim que fosse possível e o campeonato fosse mesmo encerrado, eu poderia voltar para casa e que a instituição ia fazer todos os possíveis para que isso fosse possível e foi isso que aconteceu, felizmente.” – adiantou.
Diogo Silva reconhece que este período de paragem vai afetar os jogadores a todos os níveis. “É muito complicado. Nós temos feito tudo aquilo que é possível para ir mantendo a forma física mas é completamente diferente estar fazer treinos individualizados ou em equipa principalmente pela parte tática e técnica do andebol. A parte característica deste desporto é quase impossível manter nestas condições. Claro que me vai afetar bastante, ainda por cima uma paragem tão grande até ao provável inicio da próxima da temporada, porque realmente não se vê forma de ainda haver competições esta época. Eu estou a fazer de tudo para que me afete o menos possível mas claro que afetará sempre.” – afirmou.
O esquerdino de 21 anos compara a reação da população portuguesa com a eslovena e reconhece que, na Eslovénia, as pessoas deram mais valor à situação. “Do que eu tenho acompanhado, a população portuguesa tem demorado mais a aceitar que isto é uma situação realmente séria e que é preciso ter todos os cuidados possíveis e mais alguns para que isto não se propague ainda mais. Do que eu ouvi lá na Eslovénia, a partir do momento em que houve sequer problemas e antes disso em Itália, como é sabido o estado da pandemia nesse país, a maioria das pessoas entrou logo em quarentena voluntária e penso que em Portugal isso demorou mais a acontecer. Felizmente, agora, a grande maioria das pessoas no nosso país estão a cumprir todas as regras e acho que neste momento ambos os países estão a reagir de forma semelhante.” – revelou.
Apesar do desfecho imprevisível da época, Diogo Silva consegue retirar pontos positivos desta experiência no campeonato esloveno e na Liga dos Campeões, onde chegou aos oitavos de final. “Tiro muita coisa positiva desta experiência. Sinto que cresci imenso como jogador e também como pessoa apesar de a época não ter terminado como nós esperávamos, com a festa do título e tudo mais mas acho que a parte principal, a parte da evolução, do crescimento enquanto jogador foi alcançada. Durante muito tempo treinei com a equipa, joguei e cresci e foi um ano muito bom e muito produtivo para mim, apesar deste final atribulado.” – rematou.
O RK Celje acabou por sagra-se heptacampeão da Eslovénia e soma já 24 títulos no palmarés.