Paulo Sá: “Aquilo que procuramos é que os resultados que aconteceram neste último ano se tornem uma regularidade”

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O Diretor Técnico Nacional fez, em entrevista, o balanço dos projetos postos em prática recentemente como o Projeto Altura ou a Unidade de Saúde e Rendimento.

Paulo Sá, com vasta experiência como treinador de formação e coordenador técnico em diversos clubes assume a função de Diretor Técnico Nacional há quase um ano. Um dos mais recentes projetos é a criação da Unidade de Saúde e Rendimento que, devido à pandemia da Covid-19, teve que arrancar mais cedo do que o previsto.

Apesar do lançamento ter sido antecipado, a Unidade de Saúde e Rendimento está pronta a ser posta em prática?
A USR estava já pensada há algum tempo, na perspetiva de se dar resposta às necessidades dos atletas, dos treinadores e dos clubes. Nós temos uma série de profissionais de diferentes áreas, nomeadamente da área da sáude, medicina e fisioterapia que colaboram com as seleções e na área do treino temos fisiologistas e alguns treinadores, muitas vezes há necessidade de dar resposta aos clubes que são aqueles que vão fornecer os atletas às seleções. Então havia aqui a ideia de como é que nós podíamos ter um complemento que nos permitisse, com estes serviços de apoio da Federação de Andebol de Portugal, dar resposta a toda a comunidade do andebol. Surgiu esta situação da Unidade de Saúde e Rendimento e que estava a ser preparada para ser lançada mais para o final da época, no entanto, este momento atual provocado pela pandemia do coronavírus veio acelerar uma série de processos que nos obrigou a, pelo menos na área do rendimento imendiato, avançar já com algumas situações. Nomeadamente de apoio ao treino em casa para os atletas, na vertente alimentar e nutricional. Neste momento estamos aos poucos a estruturar tudo para que, no futuro, a Unidade de Saúde e Rendimento tenha a função de regular, habitualmente, uma forma de acompanhamento aos atletas, clubes e treinadores. 

O que é que já foi tornado público e como é que qualifica os primeiros “dias de vida” do projeto?
Neste momento penso que está a ser importante, saíram uns primeiros documentos e deverão sair mais numa questão de dias – mais um documento de apoio ao treino e outro mais específico para guarda-redes – porque vamos a partir de agora começar a especificar. A partir daqui surgirão uma série de documentos de apoio à comunidade andebolística. Todos os documentos que estão a ser lançados destinam-se ao atleta em geral. Os atletas das diferentes seleções têm um acompanhamento específico e, neste momento, temos documentos lançados e tornados públicos para qualquer atleta.

As metodologias da USR não interferem com o apoio que os clubes estão a dar aos atletas?
Antes de tudo, os atletas pertencem aos clubes. Neste momento, aquilo que nós respeitamos são todas as indicações que os clubes lhes possam estar a dar em termos de treino. E nós podemos, eventualmente, complementar alguma situação de algum atleta que não esteja a ser apoiado pelo clube ou darmos algum trabalho específico. Mas nesta altura interessa-nos respeitar aquilo que são as indicações dos próprios clubes. É evidente que nos preocupa o facto de termos datas marcadas e não sabermos se poderemos vir a competir ou não. E nem sabemos se essas novas datas serão viáveis ou não. Para já, temos datas marcadas para competição e não sabemos como vai ser o futuro.

O acompanhamento é diferente mediante as idades e mesmo dentro de cada posição?
Nós estamos a lançar esses documentos para os guarda-redes que estão em casa terem um trabalho específico e depois sairão outros ao nível dos diferentes escalões etários, para diferenciarmos um bocado o que é o trabalho solicitado para cada escalão. Por isso é que nós temos a perspetiva de, a curto prazo, apresentarmos trabalhos para os diferentes escalões etários. Aquilo que nós exigimos a um atleta sénior é muito diferente daquilo que exigimos a um atleta de 14 ou 15 anos, que por sua vez, é completamente diferente daquilo que exigimos a um atleta de 9 ou 10 anos. Há momentos para trabalhar cada capacidade motora, que é das poucas coisas que podemos trabalhar em casa, neste momento, e que vamos potenciar em função das idades dos próprios atletas.

Em que é que difere um acompanhamento específico para um guarda-redes, neste caso, e, por exemplo, um pivô?
Os gestos dos atletas são completamente diferentes, as exigências para um jogador de campo e para um guarda-redes são opostas em determinadas coisas. Eu preciso que um pivô seja muito forte e capaz na luta e que salte alto com oposição e não preciso disso num guarda-redes. Preciso sim que ele seja explosivo, que tenha uma rápida velocidade de reação e que seja extremamente coordenado. São coisas diferentes que nós iremos trabalhar. Aliás a perspetiva é que nós consigamos trabalhar com os atletas especificamente para cada posição, fazendo uma aproximação do trabalho à técnica que ele realiza, para nós é o fundamental.

Este projeto visa melhorar a performance do jogador de andebol, em Portugal, por ter um acompanhamento maior e melhorado?
Sim. Os clubes têm muitas vezes dificuldade em recorrer ao fisiologista, ao fisioterapeuta ou ao nutricionista e nós queremos ter a resposta dentro da Federação de Andebol de Portugal, com os profissionais disponíveis e podermos dar resposta aos clubes em geral e aos atletas em particular. Com este tipo de resposta, não temos dúvidas que a nível global, vamos melhorar significativamente aquilo que é a resposta semanal ao treino.

Nos últimos anos as seleções nacionais têm alcançado bons resultados, isso faz com que este tipo de acompanhamento e melhoramento do treino seja cada vez mais necessário?
Com este tipo de trabalho aquilo que procuramos é que os resultados que aconteceram neste último ano se tornem uma regularidade. Temos que trabalhar para que aquilo que aconteceu e que foi excecional em termos de andebol, os resultados dos sub-19, dos sub-21 e da Seleção Nacional A, passe a ser uma coisa recorrente no âmbito do nosso desporto. E nós só podemos ter essa regularidade se formos organizados e se dermos as ferramentas certas a quem está no dia-a-dia na prática para que treine cada vez melhor.

Falemos do Projeto Altura. O que é que é procurado neste projeto e qual é a importância para o futuro da modalidade?
Este projeto surge com a necessidade de dar resposta à falta de dimensão dos atletas nas nossas seleções nacionais. Aquilo que nós sentimos é que os clubes na formação têm, muitas vezes, atletas de grande dimensão e por estes terem começado mais tarde, ou por terem um desenvolvimento andebolístico mais lento, são preteridos nos próprios clubes. A nossa ideia foi captarmos e sinalizarmos atletas de grande dimensão, que não estão integrados nos projetos de seleção para que nós os pudéssemos dotar de algumas ferramentas e fazermos o acompanhamento deles para não os perdermos nos processos de seleção ao longo do tempo. Esse é o grande objectivo do projeto altura.

Ainda acredita naquele estigma que existia antigamente em que o jovem alto ía mais depressa para o basquetebol?
Eu penso que não, tanto vai o basquetebol como para o andebol ou para o voleibol. Eu sinto é que no basquetebol há muito mais atletas de maior dimensão e penso que isto acontece porque nas fases iniciais, os próprios treinadores, no andebol, optam por atletas de baixa dimensão porque lhes dão a resposta no imediato. Nós temos que ir à procura de quem nos vai dar a resposta no futuro e muitas vezes esses atletas são preteridos e acabam até por abandonar a modalidade porque têm menos oportunidades e há menos preocupação com eles no treino. Nós não os podemos perder neste trajeto. Há espaço para os atletas altos e para os atletas baixos, agora, os atletas altos perdem-se muitas vezes no processo e é isso que nós não queremos que aconteça.

Outro dos projetos em desenvolvimento, são os estágios por postos específicos. Em que é que consistem e que importância têm para o potencial do jogador?
Essa é outra situação que começamos este ano a desenvolver e que tem sido extremamente válida e que esperamos repetir no futuro. Fizemos em Leiria, em fevereiro, um estágio para pontas, pivôs e guarda-redes e o objetivo é darmos aos atletas – estes já com potencial de seleção – muito trabalho ao nível da técnica e da tática individual, que muitas vezes é descurada nos clubes por falta de tempo ou por estes terem demasiados atletas. Sentimos que esse estágio foi extremamente benéfico para os atletas que participaram. O objetivo era repetirmos o mesmo evento para centrais e laterais, que não foi possível por causa desta situação do vírus, mas no futuro é algo que temos que fazer regularmente.

Documentos de Apoio (Propostas de treinos e de apoio aos treinos para todos os atletas)

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