CA Baltar: de projeto escolar à principal referência do andebol em Paredes

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Começou por ser um projeto escolar e, em poucos anos, expandiu para um patamar elevado no panorama do andebol no concelho de Paredes, num determinado momento em que não existia a modalidade na região. Hoje em dia, o Clube de Andebol de Baltar conta com um total de cerca de 160 atletas. No feminino, todos os escalões estão a funcionar, desde manitas até veteranas e, no masculino, até iniciados.

Em 2012 nascia um projeto que levou o andebol federado até uma região cuja tradição, nessa vertente, não existia. O CAAE Baltar (Clube de Andebol do Agrupamento de Escolas de Baltar) nasceu da vontade de Pedro Vasconcelos, Presidente do Clube, de dimensionar a modalidade para um patamar mais alto na região.

O antigo jogador, federado desde 1977, e professor, sempre ficou encarregue de dirigir equipas de desporto escolar de andebol e admite que, a determinada altura, considerou ser fulcral evoluir o desporto escolar para uma competição “mais séria, por considerar que 3/4 jornadas anuais no desporto escolar era inconcebível. As atletas da equipa de infantis femininas, na altura, até gostavam de treinar e sentiam que jogar tão poucas vezes era demasiado redutor, tal como nós o sentíamos.” Foi então lançada uma proposta aos pais, no sentido de, entre março e junho de 2012, haver a possibilidade de realizar uma competição federada dentro do Agrupamento de Escolas de Baltar. Pedro Vasconcelos conversou com o então Presidente da Federação de Andebol de Portugal “que abriu todas as hipóteses, apoiou a criação do projeto e, com o apoio da Federação e da Associação de Andebol do Porto, foi feito um protocolo, no sentido de criar o andebol dentro do agrupamento. Em termos históricos, este é o início.”

Quando a criação do projeto CAAE Baltar foi proposta ao Diretor do Agrupamento, havia duas equipas de desporto escolar, uma feminina com 20 atletas e outra masculina com 17. A ideia passava por ter apenas andebol feminino incluído no projeto, mas “o Diretor disse-nos que, se este era um projeto para ficar dentro do agrupamento, tinha que ser igual para todos e o clube tinha que abranger ambos os géneros.” As metas definidas inicialmente passavam por, no prazo de dez anos, “ter mais ou menos 7% de atletas que fossem alunos da nossa escola. Ou seja, tínhamos 1800 alunos, o que daria 120 atletas ao fim de 10 anos. Hoje, esses valores foram ultrapassados, bem como as barreiras e fronteiras do nosso agrupamento, quer na área do recrutamento, quer no número de atletas de freguesias vizinhas de Baltar, que vêm para o CA Baltar”, acrescenta Pedro Vasconcelos. Com as condições reunidas para a prática de um andebol mais competitivo no concelho, em setembro de 2012, o CAAE Baltar começou a poder contar com dois pavilhões para realizar os treinos e jogos, o da Escola Básica e o da Escola Secundária De Baltar Daniel Faria.

Em termos sociais, o Presidente do CA Baltar acredita que conseguiram criar “uma marca e uma imagem que tem beneficiado a juventude do concelho de Paredes. Para além disso, temos também objetivos educacionais e, inclusivamente, fez parte do nosso projeto educativo de escola o facto dos nossos atletas serem “obrigados” a tirar boas notas e tornarem-se bons alunos também.”

Em 2018, dá-se a transição do CAAE Baltar para o CA Baltar, numa ideia de libertar o andebol do contexto escolar e impulsionar a modalidade na região, e no clube, a patamares mais altos ao nível da competição nacional. A transição foi pacífica, segundo o Presidente do Clube, com a exceção das dificuldades inerentes ao facto de “ter que fazer as inscrições todas como transferência de clube.”

A mudança de paradigma foi aceite e compreendida por todas as pessoas que sustentavam o clube, desde dirigentes a seccionistas e patrocinadores. Pedro Vasconcelos acredita que, com esta nova realidade, e desde a criação de uma associação externa à escola, “não estamos tão limitados a determinadas regras institucionais de um agrupamento, libertámo-nos um pouco disso. Pudemos chegar mais facilmente à sociedade civil, apresentando o nosso projeto e solicitando apoios financeiros, o que se traduz num ganho para nós. Os pais e dirigentes entenderam que o clube passou a ser mais “deles” do que propriamente do Ministério da Educação, porque era visto assim, de certa forma.”

Na criação do primeiro projeto inicial, “tivemos sempre a ideia de que tudo terminaria aos 18 anos, que era quando terminaria a escolaridade obrigatória”. A transição para o CA Baltar veio fazer desaparecer esse estigma e possibilitou a que o clube pudesse ter “atletas de todas as idades, com 19, 25, 30 anos, até aos veteranos. Em termos sociais, respondemos mais facilmente aos interesses da população”, refere Pedro Vasconcelos.

O professor afirma que o clube não contou com um apoio significativo do Município, no início da atividade, porque “aquilo que precisávamos para o nosso nível e grau de competição, encontrávamos dentro do agrupamento. Ou seja, tínhamos os recursos necessários, dentro do que era a área de recrutamento de atletas e de intervenção ao nível do treino e da competição”. O facto do, então, CAAE Baltar ser um clube desportivo do concelho de Paredes, “permitiu que fosse possível concorrer ao protocolo de apoio aos clubes que o Município mantinha e tivemos a possibilidade de ter o apoio financeiro correspondente à inscrição dos atletas até aos 18 anos. Foi esse o apoio que nos foi dado, na altura, pelo Município.” Ainda antes do aparecimento do CA Baltar, houve uma vontade maior, devido ao facto do atual Presidente da Câmara ser pai de uma das atletas do clube, portanto, os responsáveis começaram a sentir “um pouco mais de conforto por parte da entidade responsável pelo Município. Hoje, sinto que somos um clube igual a tantos outros, muito acarinhado pelo Presidente da Câmara, que foi sempre um defensor do desporto no feminino, cuja tradição era inexistente no concelho de Paredes. Hoje conseguimos ter 96 atletas inscritas, que é um numero significativo no meio em que vivemos”, admite o Presidente do CA Baltar.

Jorge Coelho, Presidente da Junta de Freguesia de Baltar, tem sido um dos principais parceiros do clube, que considera ser um pouco seu também. Baltarense de gema, Jorge Coelho não se considera Presidente, mas sim um membro da comunidade, e diz-se orgulhoso pelo que o clube tem conseguido fazer ao longo do tempo. Ao nível dos incentivos da Junta de Freguesia de Baltar, Jorge Coelho revela que “a nível de logística, disponibilizamos a carrinha para transporte de atletas, sempre que possível e também fornecemos uma sede ao CA Baltar, com as despesas pagas pela Junta.” Mais recentemente, o Presidente da autarquia reuniu esforços e conseguiu com que, ainda este mês, fosse colocado um piso novo no Pavilhão da Escola Secundária de Baltar, onde os atletas do CAB realizam os treinos e jogos oficiais, proveniente do Pavilhão Gimnodesportivo de Paredes, que está em vias de ser recondicionado. “Tem que haver articulação entre as partes e eu estou muito satisfeito e orgulhoso do que o CAB tem vindo a fazer“, afirma.

Em termos competitivos, o clube tem vindo, ao longo dos anos, a produzir resultados que vão ao encontro às expetativas e metas internas impostas, dentro do panorama regional. No ano de transição, alguns escalões conseguiram mesmo superar essas expetativas, o que fez acreditar que a mudança foi positiva para os interesses do clube de Baltar. “Em 2018 conseguimos o primeiro apuramento para uma prova nacional, com as infantis femininas, e creio que isso vai ser sempre uma tendência. As nossas meninas começam a jogar, a aparecer e a ter resultados muito mais cedo na modalidade, e isto é importante para o crescimento do clube, porque são também os resultados que fazem com que outros meninos e meninas se agradem pelo nosso projeto.” O Presidente do clube, afirma que “dentro das equipas que não foram apuradas no campeonato regional, fomos tendo resultados extraordinários e fazendo um percurso acima do índice de 50, ou seja, ter mais vitórias do que derrotas.” Numa perspetiva mais recente, os responsáveis pelo CA Baltar têm vindo a definir como objetivo, resultados que possam ir de encontro ao índice de 65% de vitórias faz às derrotas e, “se não estivermos já nesse índice, estamos muito próximos”, acrescenta.

No mesmo ano, é materializada a ideia de criar um torneio que pudesse dar visibilidade nacional ao clube e ao concelho de Paredes. O Paredes Handball Cup foi pensado, estruturado e concretizado em parceria com o Município e caminha já para a terceira edição, que estava já estruturada, mas que a pandemia tornou inviável a sua realização. Pedro Vasconcelos, que esteve ligado ao Município de Paredes entre 2005 e 2011, como responsável pelo desporto no concelho, conta que sempre achou que faltava algo que projetasse a região em termos desportivos. “Viviamos muito da ideia do mobiliário, mas isso tem nichos muito próprios. Em termos económicos é muito forte, mas em termos de visibilidade, e de algo que se apresentasse ao país, não tínhamos um grande evento, algo que nos desse uma imagem muito positiva. Após a participação em quatro edições consecutivas no GarciCup, e depois de começar a conhecer o torneio, achei que tínhamos também ótimas condições em Paredes para realizar também um evento do género. Tínhamos pavilhões no concelho, piscinas, campos de relva sintética, massa humana, um concelho que é o 28.º em termos populacionais do país e achei que podíamos ter possibilidades de fazer um evento com alguma dimensão.” Juntamente com os restantes membros organizadores do clube “fomos reunindo com os responsáveis pelo Município e conseguimos passar a ideia de que um evento destes poderia ser uma mola muito pertinente para o crescimento e aparecimento de novos clubes no concelho de Paredes, o que acabou por acontecer, com o aparecimento de quatro novos clubes, desde a primeira edição do torneio. Faz sentido dizermos que é importante para o clube, mas é muito mais importante para uma região. O clube acaba por beneficiar de atletas que, vendo toda a dinâmica do torneio, acabam por juntar-se a nós mas, acima de tudo, o benefício da região é muito importante economicamente. Também no sentido de fazer perceber aos pais que o andebol é uma modalidade que consegue criar alegria, movimento e uma festa.”

O líder máximo do CA Baltar admite ainda a criação de mais um torneio, com menor dimensão. Ainda não há uma ideia concreta, mas é algo que Pedro Vasconcelos tem em mente para um futuro próximo, “criar um torneio de início de época para as equipas mais novas de formação. Que possa ter, além do que é a componente desportiva de preparação de uma nova temporada, uma componente grande de alegria e divertimento, com andebol de praia, por exemplo. Temos exemplos que vão acontecendo por essa Europa fora e que são muito fortes para estes jovens, porque são atividades que os prendem à modalidade. A ideia é criar algo mais lúdico e familiar, com menor dimensão do que o Paredes Handball Cup. Poderá acontecer em 2021.”

Recentemente, o CA Baltar conseguiu cumprir um desejo do Presidente do Clube, que passava por criar uma equipa senior. Uma realidade que foi possível devido à parceira com a Junta de Freguesia de Baltar, cujo Presidente, Jorge Coelho, incentivou a arriscar nesse sentido. “Não podíamos morrer na praia, disse-lhe que tínhamos que lutar e que eu ajudava no que puder. O Pedro já o tinha idealizado, mas tinha algum receio. Eu incentivei-o a criar um escalão sénior para que os atletas, quando chegassem à idade adulta, não tivessem que abandonar o clube. Era um desafio mas foi concretizado com sucesso.” Foi possível alcançar esse desejo, no feminino, em 2018 e, para Pedro Vasconcelos “é um orgulho imenso perceber que conseguimos começar com infantis e que, hoje, algumas dessas atletas estão na equipa sénior. Primeiro, porque conseguimos fazer prevalecer a ideia de que as jovens femininas terão que ter tantas oportunidades como os jovens rapazes, e é um orgulho também, perceber que muitas delas gostaram de trabalhar connosco nestes anos todos e sentiram que contribuímos para a sua educação e formação de personalidade.” Muitas dessas atletas são treinadoras, hoje em dia, e seguidoras da linha de trabalho e identidade que foi criada no início do projeto. Todos estes fatores fazem com que “este clube, um pouco familiar, seja um orgulho imenso para todos nós, amantes da modalidade.”

Numa altura em que a pandemia alterou as rotinas e objetivos do clube, Pedro Vasconcelos acredita que “só vamos saber que impacto esta pandemia terá nos clubes, quando a prática desportiva iniciar. É das coisas que mais me preocupa, perceber quantos pais e filhos vão estar cheios de medo quando a prática desportiva recomeçar.” O Presidente do CA Baltar, acredita que possam haver dois fatores de travagem ao crescimento do clube: os pais e os atletas. “Temos sentido que os miúdos estão tristes porque não estão a jogar, não estão com os amigos, porque a vida de alguns deles já estava mecanizada para treinar três ou quatro vezes por semana, e agora não têm o feito. Mas como fomos trabalhando sempre com tele-treinos e reuniões à distância, mantendo sempre o contacto com todos eles, tenho a ideia de que não vamos perder muitos atletas e o impacto não será significativo no número de jogadores ligados ao clube. Em termos sociais, acredito que haverá um impacto enorme, porque sabemos que temos jovens difíceis no seu trato social, e creio que esta pandemia pode agudizar alguns comportamentos menos positivos. Por outro lado, acho que vamos ter miúdos mais tristes a jogar andebol.”

O Presidente da Junta de Freguesia, acrescenta que “nesta época de confinamento, tenho que deixar uma palavra de apreço ao Pedro Vasconcelos e à sua equipa técnica, que conseguiram manter o grupo unido, fazer prevalecer o contacto, através de discursos motivacionais através do Facebook e cativar os atletas no sentido destes lidarem de uma forma mais positiva com o distanciamento, utilizando o parque da cidade para a prática de exercício físico.”

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