Clube de Andebol de Caminha: o regresso de um «histórico» escudado num processo sustentável

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Há alguns dias iniciámos uma série de apontamentos com os quais se pretende dar visibilidade aos clubes que – por força da ação que a Federação de Andebol de Portugal (FAP) tem vindo a colocar no terreno, em parceria com diversas autarquias, escolas e outras instituições – têm vindo a dar corpo a novos projetos ou, em alternativa, estão a retomar a prática da modalidade.

Depois do «Cautchú», de Odemira, viajámos até ao norte de Portugal e é agora a vez de passar em revista e divulgar o projeto do Clube de Andebol de Caminha (CAC).

VOLTAR A SEMEAR UMA TERRA QUE NUNCA DEIXOU DE SER FÉRTIL

Quem, entre os amantes da modalidade que no final dos anos 80 já estavam atentos ao andebol, não se recorda dos afamados torneios internacionais de juniores que, ano após ano, se realizavam em Caminha e Vila Praia de Âncora? Dessas competições que juntavam as melhores equipas nacionais do escalão júnior; seleções nacionais de Portugal e Rússia e até, por mais de uma vez, o Futebol Clube Barcelona? Pois tudo isso foi obra do CAC – Clube de Andebol de Caminha.

Fundado em 1987, o CAC desenvolveu nos primeiros anos da sua formação uma forte atividade, em que envolveu mais de uma centena de atletas, e que ficou muito marcada por iniciativas mais visíveis como a que atrás referimos. Depois, passou por um período de hibernação, de que agora está apostado em sair, como refere Pedro Correia.

«O CAC renasceu há cerca de um ano. Teve momentos muito altos, com a realização de diversos torneios internacionais, onde passaram não só as melhores equipas nacionais de juniores e o FC Barcelona, como jogos das próprias seleções nacionais, até que a crise no país, a crise autárquica, aquilo que é falta de apoios tanto das empresas como das autarquias levou a que o nosso projeto se tivesse de reduzir», refere o atual presidente da direção. «Primeiro decidimos restringir a atividade a dois escalões, mas mesmo assim não foi possível continuar, porque os apoios não surgiam, e acabámos por parar toda a atividade desportiva durante três anos, em finais de 2010». Na altura não havia condições para «trabalhar num projeto sem sustentabilidade e era isso que estava a acontecer. Tínhamos custos superiores aos proveitos e o projeto não se mostrava sustentável».

Mas, numa terra tão fértil, tão vocacionada para o Desporto em geral e para a modalidade em particular, e onde houve sempre um grupo alargado de pessoas com especial ligação à causa, esta situação tinha forçosamente de ser passageira. Da hibernação, passou-se à ação. Uma história aqui contada pelo presidente do CAC enquanto ao municipal de Caminha chegavam, carregadas de alegria e energia, muitas crianças que dão os primeiros passos na modalidade.

«Há cerca de um ano atrás, as pessoas que nunca deixaram de estar ligadas ao andebol voltaram a juntar-se, a conversar, e havia necessidade de começar a renovar quadros, já que muitos dos anteriores diretores tinham entretanto falecido, como foi o caso do nosso mentor e fundador, o Fernando Lima. Isso fez com que esse grupo de pessoas que sempre se mantiveram ligadas ao Andebol apostasse em voltar a juntar-se e começar a pensar que podíamos reiniciar o projeto do CAC».

NÃO DAR PASSOS MAIOR QUE AS PERNAS

E de que maneira, com que meios, numa altura em que as coisas não são fáceis? Entre um abraço a uma criança que chega para o treino e uma palavra de afeto para com a mãe que o levou, Pedro Correia responde.

«Com escalões muito jovens, dando corpo a um projeto todo ele muito sustentável. Isto é, só íamos formando novas equipas conforme fossemos arranjando sustentabilidade para elas próprias. Começámos com Minis e Bambis mas entretanto surgiu a oportunidade de voltar a juntar um grupo de meninas que tinham jogado há quatro anos atrás e que sempre se mantiveram ligadas ao andebol». Esta equipa, de um escalão superior e a competir a um nível mais elevado, também era muito importante como exemplo para os mais novos porque , «com esta equipa de juvenis femininos a disputar um campeonato nacional, os mais novos começam a ter uma ideia de onde se quer chegar. É essa a ideia deste projeto”, diz Pedro Correia, não sem que reforce que «projeto em si são os Minis e os Bambis, mas vamos trabalhando com escalões um pouco mais avançados, na ideia de que eles tenham um sentido de continuidade e mantenham o gosto pelo andebol, fazendo prosseguir este projeto de futuro».

O presidente do Clube de Andebol de Caminha fala com indisfarçável entusiasmo deste projeto e olha-o sempre pelo lado mais positivo. Pelo lado que lhe permite ver – e estar grato – a todos os que com ele, e com o clube, colaboram. Não se perde em passar em revista as dificuldades que, seguramente, também as teve – e tem – mas que consegue ultrapassar. Prefere ver o lado mais positivo.

«O projeto arrancou, como referi, tendo como base de trabalho todas aquelas pessoas que se mantiveram ligadas ao andebol. Mas logo após o arranque, o próprio Município de Caminha se disponibilizou para nos ajudar e está a facultar-nos um conjunto de equipamentos para utilização múltipla das próprias equipas e está também a apoiar na deslocação das equipas para os jogos». Pedro Correia tem consciência da importância deste e de outros apoios. «Só a cedência do pavilhão por parte da autarquia, sem custos para o clube, torna possível que este projeto seja sustentável».

UM AMOR ANTIGO

Uma das peças chave deste projeto é a treinadora Gabriela Duarte. De há muito ligada à modalidade, cumpriu nos últimos meses um hiato para dar lugar à suprema missão de ser Mãe. Curiosamente, no dia que nos deslocámos ao magnífico pavilhão municipal de Caminha para realizar este trabalho, Gabriela regressava aos treinos, para visível alegria dos seus mais jovens candidatos(as) a jogadores(as) de andebol. A empatia entre técnica e pupilos é notória, e a festa era redobrada já que, para além do regresso da treinadora, a equipa de juvenis do CAC tinha, dois dias atrás, conquistado em Braga, frente ao ABC, uma saborosa vitória no Flávio Sá Leite.

«Comecei como atleta neste clube, já lá vão 21 anos», recorda a treinadora Gabriela Duarte, professora de Educação Física e treinadora do CAC. «Fui para o Porto estudar e a minha ideia era dar continuidade àquilo que fizeram comigo e ensinar os mais jovens a jogar andebol».E quis o capricho do destino, e a vontade de um grupo de amantes da modalidade, que assim viesse a acontecer. Para alegria incontida das muitas crianças que orienta.

«O ano passado recomeçamos com a ideia de dar continuidade ao projeto e neste momento sou treinadora dos Minis, Bambis e Juvenis femininos. Só não conseguimos reunir um grupo para fazer equipa de Infantis», reconhece. Gabriela Duarte refere que «é inevitável socorrer-nos da Escola, aqui tão perto do pavilhão, onde devemos procurar recrutar crianças para a modalidade. Só assim conseguiremos manter os escalões mais jovens. Temos abertura por parte do Agrupamento, penso que não haverá qualquer problema».

QUEM EXPERIMENTA NÃO QUER OUTRA COISA

Comparando com o que foi o CAC em 1987, na altura dos grandes torneios, a treinadora confessa que agora é diferente. «Naquela altura, havia muitos escalões de formação, e menos solicitações. Mas, agora, noto que há muitos jovens que vêm para o Andebol e mesmo que depois venham, por um ou outro motivo a sair, rapidamente estão de volta. Quem experimenta e joga andebol, não quer outra coisa!», diz convictamente. «Houve quem saísse para o Remo e para o Futebol e está de regresso. Isto entranha-se. E eu falo por mim – estive noutros desportos e o Andebol foi e será sempre o meu Desporto».

Auscultados o presidente, Pedro Correia, e a treinadora Gabriela Duarte, deixamos para um dos próximos dias a segunda parte da história do novo projeto do Clube Andebol de Caminha (CAC). Vamos então dar voz a três jogadores e à mãe do Rui Reis, o jovem de oito anos que, no dia da nossa visita a Caminha, realizou com visível satisfação e empenho o seu primeiro treino. E deixamos no ar uma questão: o que liga os espanhóis do Atlético Gardés ao Clube de Andebol de Caminha?

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