Depois de no início da semana termos conversado com o presidente, Pedro Correia, e a treinadora Gabriela Duarte, regressamos hoje para a segunda e derradeira parte da história do novo projeto do Clube Andebol de Caminha (CAC).
E se o presidente e a treinadora são peças importantes para este sucesso, o que seria deles se não houvesse atletas? E sem os pais e mães interessados e disponíveis, que levam os seus filhos até aos treinos no pavilhão de Caminha e, quase sempre, os acompanham aos jogos? Pois é a esses que hoje vamos dar voz.
Mas primeiro, e como estava prometido, vamos dar resposta à questão que aqui deixamos terça-feira passada: o que liga os espanhóis do Atlético de Gardés ao Clube Andebol de Caminha?
Poderia ser, muito simplesmente, o Rio Minho! Melhor, o «ferry boat» que (às vezes) liga Caminha a La Guardia. Mas, não… Não era essa a resposta exacta. O que liga o Guardés ao CAC é o Andebol. Mais precisamente duas das actuais juvenis do Clube de Andebol de Caminha que, em épocas anteriores, já defenderam as cores do clube espanhol, um dos emblemas mais importantes do andebol feminino no país vizinho.
E é pela voz de uma delas, a guarda-redes Filipa Veiga, que aqui deixamos a história.
«Comecei a jogar andebol quando ainda andava no ensino básico, na Escola primária, e vínhamos aqui para o pavilhão municipal. Gostei e fui-me mantendo na modalidade», começa por historiar. Depois o Andebol acabou no Desporto Escolar e «fui para Espanha, para o Atlético Guardés, em La Guardia, onde joguei no escalão de Cadetes. Treinávamos três vezes por semana e um dos treinos era apenas treino físico»
La Guardia fica do lado de lá do Rio Minho e para ir aos treinos, Filipa Veiga e Maria Santiago Torre utilizavam o «ferry-boat». A Câmara Municipal tinha um acordo com o clube «e nós não pagávamos o transporte no barco». Só que o ferry nem sempre funciona e quando a maré estava baixa, «tínhamos de ir pela ponte de Cerveira». A guarda-redes do Clube de Andebol de Caminha (CAC) deixa escapar que «em Espanha o nível era mais exigente» mas não esconde a satisfação por fazer parte deste projeto. E no excelente Municipal de Caminha ainda se viviam momentos de alegria pela vitória que a equipa de juvenis tinha ido conquistar a Braga, dois dias antes, ao pavilhão Flávio Sá Leite, frente ao ABC.
A VOZ DOS MAIS NOVOS
Para além da equipa de juvenis femininas, o pavilhão de Caminha acolhia um grupo maior de crianças, de ambos os sexos, que ainda não tinham caído bem em si, contentes com o regresso da treinadora Gabriela Duarte. Aproveitamos uma pausa no seu dedicado treino para ouvir dois dos mais novos.
Tiago Filipe, de 10 anos, frequenta o quinto ano de escolaridade e contou-nos como veio parar ao Andebol. «Foi através de um meu primo, que já jogava», refere com visível satisfação.Quando lhe perguntámos se gosta, a resposta veio rápida. «Sim! Gosto de jogar à frente e o andebol é uma modalidade que gosto muito. Antes, joguei futebol mas prefiro o Andebol», disse convictamente.
Rafaela Teixeira está no Clube de Andebol de Caminha há um ano. «Comecei a experimentar e gostei. Por isso fiquei aqui. Foi a minha mãe que me trouxe», disse, para depois confidenciar. «Ela, em pequena, também jogou andebol», refere com graça. «Estou no quinto ano de escolaridade, tenho 10 anos e gosto muito de jogar e de treinar».
A ENVOLVÊNCIA DOS PAIS, DECISIVA PARA O ÊXITO DO PROJETO
Ana Ferreira é a mãe de um dos mais jovens jogadores do Clube de Andebol de Caminha. Rui Reis tem oito anos e fez o seu primeiro treino precisamente no dia da nossa visita. Quisemos saber porquê a opção pelo Andebol e a explicação foi clara.
«O andebol é um desporto coletivo em que eles têm de desenvolver o trabalho de equipa. Acho que isso é importante para os miúdos». A prática do Andebol vai, na opinião de Ana Ferreira, ajudar muito na formação do seu filho.
«É muito importante para ele saber trabalhar com os outros miúdos, jogar, divertir-se… Importante não é fazer as coisas individualmente. Se calhar ele, de uma forma individual, é capaz de alcançar um determinado objetivo mas em conjunto chegará com toda a certeza mais longe», diz com visível satisfação, enquanto vai ‘deitando o olho’ ao seu menino que faz o primeiro treino. «Se trabalhar em equipa, com todos os outros, isso torna-se importante para ele e para o seu desenvolvimento. Um desporto coletivo é muito importante na formação das crianças».
Depois, veio a confissão. «Eu própria fui atleta, até entrar para a Faculdade, e por isso mesmo tenho essa perceção. A prática de um desporto é fundamental para o desenvolvimento de crianças e jovens. E se for um desporto coletivo, ainda melhor».
Mas o Rui não veio para o andebol apenas por influência da mãe. «O andebol também foi uma preferência manifestada por ele. Na escola primária, nas aulas de Educação Física, o próprio professor já tinha dado algumas indicações sobre a modalidade, ele gostou e manifestou interesse em vir jogar. Aqui está hoje, pela primeira vez», referiu Ana Ferreira, para depois formular um desejo. «Esperemos que seja o início de um trabalho que o satisfaça e se prolongue por muito tempo».
E com quase absoluta certeza que se vai prolongar. A existência de um projeto sustentado, a determinação dos dirigentes, o empenho dos treinadores, a dedicação das jovens crianças, as excelentes condições de trabalho, o importante apoio da autarquia são factores que levam a acreditar que esta fértil terra de Caminha voltará, passo a passo, ao nível a que, em finais da década de oitenta, habituou os amantes da modalidade. E, onde o Rio Minho desagua no Atlântico, Caminha será um importante farol.