Miguel Sarmento vive na Noruega há cerca de três anos e defende as cores do TIF Viking, da 1. Divisjon. O jogador português, em entrevista, conta como tem sido viver esta pandemia naquele país. “É um bocado complicado estar longe da família mas ao menos assim não afeto ninguém (risos). Estou a ver isto com alguma apreensão. Nesta altura, Noruega e Portugal estão praticamente iguais em termos de casos, as medidas tomadas nos dois países também são praticamente as mesmas. Enfim, estou apreensivo mas ao mesmo tempo tranquilo. Tenho feito a minha quarentena, tanto eu como a Marta, a minha namorada, estamos em regime de layoff, ou seja, estamos a ser pagos na totalidade pelo Estado, Segurança Social. O Estado ativou um mecanismo de crise, porque a Noruega tem um fundo de emergência enorme e acionária um Gabinete de Crise para dar uma parte desse orçamento para poder poder pagar, até agora, os salários dos trabalhadores.” – admitiu.
O contacto com a família tem sido permanente, o que permite ao jogador de 30 anos ter uma opinião acerca das realidades de Portugal e Noruega. “Eu consigo estabelecer uma comparação entre os noruegueses e os portugueses porque vivo de perto ambas as realidades, com a ajuda da tecnologia. A diferença entre este país e Portugal é que aqui há muito menos mortes confirmadas. Por aquilo que tenho visto e lido, os noruegueses estão relativamente tranquilos e confiam no Sistema Nacional de Saúde que, para já, tem dado uma boa resposta. Em Portugal não acho que exista essa confiança cega. Ainda não houve grandes problemas ou grandes crises por causa disso e a vida vai seguindo. A maioria das pessoas foi colocada em regime de layoff, não estão a trabalhar, apenas os serviços básicos mas creio que em Portugal as pessoas estão mais apreensivas do que aqui. Mas uma coisa que há em comum entre os dois países é o agradecimento a todos os enfermeiros, médicos e pessoal que está na linha da frente e que tem que continuar a trabalhar para pôr o país a andar.” – revelou.
Miguel Sarmento vive com a namorada na cidade de Bergen e reforçou como esta pandemia do novo coronavirus obrigou à alteração das rotinas diárias. “As minhas rotinas mudaram drasticamente, claro. Eu treinava todos os dias no clube mas o clube fechou os serviços temporariamente porque o campeonato acabou e também estava a trabalhar na comunicação de uma cadeia de restaurantes. Continuo a realizar alguns ligados à comunicação, mas muito menos agora, porque não temos serviços que possamos oferecer. Nós vedemos refeições e não conseguimos oferecer esse serviço mas temos que ser engenhosos e criativos para ganhar clientes e notoriedade. As minhas rotinas passam muito por ir fazer algumas compras necessárias da parte da manhã com a Marta, temos feito exercício em casa com a ajuda de algumas aulas online, damos uns passeios e umas corridas, porque nós vivemos relativamente isolados das zonas centrais e com muita gente e podemos andar mais seguros, e vemos muitos filmes e séries.” – revelou.
O TIF Viking, clube onde joga Miguel Sarmento, seguiu as normas do Governo e colocou os jogadores em regime de Layoff com orientações para que estes continuassem a treinar nas suas casas. “A primeira notícia que tivemos por parte do clube foi que todos os jogadores iam ser colocados em regime de layoff, como já disse, durante dois meses. No final desses dois meses o clube volta pagar os salários novamente aos jogadores. Tudo isto com uma tranquilidade extrema, toda a gente aceitou porque foi a instrução dada pelo governo norueguês. Depois enviaram-nos as cartas para apresentarmos na Segurança Social nesse sentido e duas semanas depois deram-nos planos de treino, exercícios com o peso do corpo e com cardio. O ginásio onde nós trabalhávamos está fechado por isso temos um plano adequado para trabalhar em casa.” – afirmou Miguel.
As competições na Noruega terminaram e por isso, o clube de Miguel Sarmento terminou na 5.ª posição. Para o atleta português esta decisão tem um sabor amargo em termos desportivos mas foi uma medida correta no que há saúde pública diz respeito. “As competições aqui na Noruega acabaram. Faltavam jogar-se duas jornadas e depois o playoff mas a classificação que vigorava à data do último jogo foi a que ficou. No entanto, havia uma questão que era: o antepenúltimo classificado jogava com o terceiro da divisão inferior para definir quem subia. Esse jogo foi suspenso e vai subir mais uma equipa e não vai descer nenhuma. Mas há duas equipas da Divisão de Elite que descem para a Primeira divisão. Acho que foi uma decisão sensata. Faltavam duas jornadas, nós terminamos a época em sexto lugar e podíamos ter ficado em quarto ou até mesmo lutar pelo playoff mas toda a gente aceitou a decisão porque, neste momento, há coisas mais importantes do que a tabela classificativa.” – reiterou.
Recorde-se que a Noruega tem uma população de 5,4 milhões de habitantes, e contabiliza já mais de quatro mil casos confirmados de Covid-19 e acima de 25 mortes.