Ricardo Vasconcelos: “No Reino Unido estamos duas ou três semanas atrás” – Covid-19

Selecionador de seniores masculinos da Grã-Bretanha, admite que o Governo britânico reagiu tarde à pandemia e conta como vive a situação em terras de sua majestade.

Ricardo Vasconcelos vive em Inglaterra desde 2014 depois de, nesse ano, se ter candidatado ao cargo de Handball Development Officer na British Handball Association. O atual Selecionador Nacional Masculino da Grã-Bretanha e Treinador da equipa sénior do Nottingham HC revelou, em entrevista, como tem vivido a situação da pandemia do novo Coronavirus. “É um contexto difícil, não só por estar longe da família e, obviamente, ter falta do apoio e das bases que estar perto nos dão. Ao mesmo tempo a minha companheira e mãe dos meus filhos é enfermeira e está a trabalhar na linha da frente, portanto eu vejo esta situação com um certo aperto no estômago e, claro, mas de perto do que a maioria das pessoas. Neste momento estou a trabalhar a partir de casa, estou a tomar conta dos meus dois filhos que estão sem poder ir à escola e à creche e estamos a acompanhar a situação minuto a minuto.” – revelou.

O treinador português de 36 anos conta com detalhe como é que o país tem reagido à pandemia e como o Governo mudou de estratégia depois de um plano arrojado de imunização de grupo. “Aqui o problema foi a reação inicial. Nas primeiras duas ou três semanas, enquanto os outros países tomaram as medidas que nós sabemos o Governo inglês decidiu optar por uma via diferente, a imunização de grupo. A premissa desta medida era deixar todos os elementos da população de risco em casa e permitir que todos os outros contraíssem o vírus com o objetivo de desenvolverem uma imunidade que, mais tarde, lhes permitisse não ser afetados desta forma. Com a evolução dos números, a ideia da imunização de grupo esbateu-se porque ficou provado que teria custos elevadíssimos a nível de vidas. Agora estamos no mesmo contexto que em Portugal, em lockdown, mas estamos duas ou três semanas atrás daquilo que se passa em Portugal. Este problema é ainda mais preocupante pelo facto de os testes não estarem a ser realizado, ou seja, só testado para o Covid-19 quem dê entrada nas urgências do hospital já a necessitar de apoio médico. Portanto, todas as pessoas que fazem o dia-a-dia normalmente e as que estão em casa, tenham ou não sintomas, não são testadas o que tolda os números e a realidade da extensão do problema.” – adiantou.

Na vertente competitiva, a época estava a correr de feição para o Nottingham HC, orientado por Ricardo, antes da suspensão das competições. “Nós competimos até aos fim-de-semana passado, não este mas o anterior, ou seja, até ao Governo mudar de política estava tudo a decorrer normalmente. Tivemos competição, estamos a a dois jogos de terminar a época em termos de campeonato, na Taça ainda faltam alguns jogos. De momento está tudo parado, suspenderam as competições, como faltam dois jogos há a expetativa de que seja possível fazê-los mais tarde, em junho ou julho, quando o pico da pandemia passar. Estamos todos a aguardar e a ver a evolução. Tudo o que é competições de faixas etárias inferiores, competições escolares, foi tudo cancelado e estamos apenas à espera que o pico da pandemia passe para saber se é possível realizar os jogos que faltam ou não. Houve países como a Suécia, Suiça, Polónia que já fecharam a época mas esses países ainda tinham os playoffs para decidir os campeões e quem descia de divisão. No caso específico são duas jornadas, a expetativa é que esses jogos se possam realizar mas, obviamente, apenas quando não colocar em causa a saúde das pessoas, que é o mais importante. A minha equipa é, neste momento, líder do campeonato com um ponto de avanço sobre o segundo classificado. A última jornada seria o primeiro contra o segundo em nossa casa, há uma série de condicionantes ainda a observar, mas de momento é o que menos nos preocupa e queremos é que isto passe com a menor quantidade de danos possível.” – afirmou.

Ricardo Vasconcelos pensa em voltar a Portugal mas a pandemia do Coronavirus veio adiar um objetivo sem data de concretização. “O regresso a Portugal está sempre nos planos quando as condições se proporcionarem, não só a nível pessoal mas também a nível profissional e, claro, condições que me permitam criar a minha família aí e dar-lhes a estabilidade necessária. Relativamente à influência que este vírus poderá ter nessa decisão, neste momento é cedo para definir isso. É óbvio que acentua, realmente, a distância e os problemas da falta de apoio mas agora é pensar dia a dia e, ainda por cima, estando a Andreia – mão dos meus filhos – na linha da frente. Para já é ir olhando para a situação dia a dia e esperar que isto melhore e que nós não sejamos atingidos por ela. Todos os planos que possamos ter serão pensado só quando esta situação acalmar, até porque de momento, mesmo que quiséssemos, não poderíamos ir a lado nenhum porque estaríamos a condicionar o trabalho da minha companheira e também a correr riscos desnecessários.” – revelou.

O técnico que vive no Reino Unido há cerca de seis anos conta como têm sido as novas rotinas, que exigem cuidados especiais devido à profissão da companheira. “As nossas rotinas ainda não estão 100% afetadas mas têm sido específicas derivado da profissão da Andreia. Tentamos ao máximo resguardar os miúdos do contacto com a mãe, principalmente quando ela chega do trabalho. Há uma desinfeção geral fora de casa e ela entra em casa e vai imediatamente tomar banho. A roupa e o calçado não entram em casa e tentamos não sair. É maquio que as pessoas devem fazer em todo o mundo, tentar ficar ao máximo em casa, tentar fazer as compras essenciais e necessárias para a nossa sobrevivência online ou através dos corredores para os enfermeiros e médicos que aqui existem nos supermercados. Aqui em Inglaterra existem horas específicas em que só os médicos, os enfermeiros e o pessoal que trabalha para o Sistema de Saúde podem fazer compras. Tentar tomar as medidas certas para minimizar o possível contacto e contágio.” – finalizou.

Recorde-se que o Reino Unido conta já com 11.816 casos de coronavírus e 580 mortes. Boris Jonhson, primeiro-ministro britânico, anunciou esta sexta-feira que está infetado com o vírus.

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