Rolando Freitas: “Sentia-me seguro em Israel mas optei por voltar a Portugal” – Covid-19

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O atual diretor técnico nacional dos escalões jovens de Israel contou como é que um país com diferenças religiosas e culturais está a lidar com a pandemia.

Aos 55 anos, Rolando Freitas está a viver a primeira experiência no estrangeiro, em Israel, onde desempenha a função de Mens National Teams Manager, uma espécie de diretor técnico nacional dos escalões jovens de Israel. Em entrevista, o treinador português, que já regressou a Portugal devido à pandemia do novo Coronavirus, revelou como é que um país tão religioso está a lidar com a pandemia e ainda de que forma é que, em família, geriu as rotinas antes do regresso ao nosso país.

Como é que as pessoas em Israel estão a lidar com a pandemia?
Em Israel, no geral, as pessoas estão bastante preocupadas. Neste país temos que dividir várias populações: os judeus que são extremamente religiosos ainda hoje não estão tal preocupados e não respeitam tanto as regras porque acreditam numa divindade maior; os outros israelitas e os outros judeus têm uma consciência mais europeia e seguem muito as recomendações que o país e que o Governo tem vindo a dar. Isso tem limitado um pouco, penso eu, o número de mortes que ainda é muito reduzido apesar de o número de infetados estar perto dos quatro mil.

Sentiu algum tipo de insegurança antes de regressar a Portugal?
O Governo israelita pôs os estrangeiros à vontade para regressarem aos seus países porque as atividades festivas foram paradas. Sinceramente, quando encetamos a viagem, eu e a minha família estávamos bastantes seguros em Tel-Aviv e não sentíamos necessidade de viajar embora o facto de estarmos em Portugal, mais próximos dos nossos familiares ajuda e optámos por voltar. Mas não sentíamos qualquer insegurança e sentimos que as medidas que o Governo de Israel estava a tomar eram muito positivas. Eles fecharam as fronteiras, cancelaram voos desde muito cedo. Nós em fevereiro estávamos a preparar jogos e imediatamente tivemos que cancelar alguns acordos que já tínhamos porque os voos tinham sido cancelados para os países em questão. Todos os israelitas que regressavam ao país estavam obrigados a uma quarentena de catorze dias, portanto, senti que o país transmitiu segurança às pessoas e que as medidas foram efetivas. Não sentimos, honestamente, o desconforto por estarmos fora do país embora o conforto de casa seja sempre diferente.

Em que altura decidiu voltar?
Eu tinha uma formação na Hungria como leitor da IHF no início de março, que abdiquei de ir, porque ao regressar teria que ficar catorze dias em quarentena. Ainda não estávamos a pensar que esta situação ía evoluir desta forma. Ainda estávamos a planear toda a semana europeia, agora de abril e todas as atividades que tínhamos planeadas e organizadas. E depois do Purim, que é uma festa semelhante ao Carnaval que nós tivemos na semana seguinte, no dia 11 de março, a minha filha já não foi à escola por nossa iniciativa e as escolas acabaram por fechar no dia seguinte. Dessa altura até termos regressado a Portugal foi uma semana. Tudo se proporcionou entre o dia 11 e 18, 19 de março.

Teve algum receio quanto a um possível contágio durante o processo da viagem de regresso?
Nós regressamos a Portugal mesmo no fecho dos voos para a União Europeia. Um dos voos foi cancelado e tivemos que encontrar outra solução, enata viajámos por Paris e a verdade é que estávamos um pouco preocupados com a situação, com as notícias que vinham da Europa e pelo facto que termos que passar em três aeroportos. Mas tomámos as preocupações recomendadas quer em Israel quer pelo Governo português e estamos há 13 dias em quarentena e pensamos que estamos, por enquanto, saudáveis e esperamos continuar a estar.

Ao nível competitivo como é perspetiva o futuro face a esta situação?
Nós, para já, não temos data de regresso. A perspetiva é que as escolas vão reabrir até ao final de abril e nós temos os campeonatos parados, para já, até 15 de abril. Neste momento, pensamos que vão ser retomados nunca antes do final desse mês e tudo se a conjuntura internacional também contribuir para isso. Se esta situação não tiver uma evolução positiva pode haver a possibilidade de tomarmos decisões, como outros países já tomaram, de não concluir os campeonatos e pensar se haverá competições internacionais no verão. Na minha opinião, as competições só deverão ser retomadas depois de meados de maio, princípios de junho.

Acredita num desfecho positivo, a todos os níveis?
Eu não consigo pensar sem ver uma luz qualquer no fundo do túnel e esses objetivos fazem-nos mexer. Claro que nós agora estamos todos preocupados com os nossos idosos, os nosso pais, tios e todos os nossos familiares. E com todos nós, agentes do andebol, o importante é que estejamos todos com saúde e em segurança, isso é o principal. Mas pensando que pode haver vida para além do que aquilo que estamos a viver agora, nunca podemos pensar em retomar uma competição tão cedo. Mas talvez possamos pensar em atividades um pouco antes do previsto. Claro que isto é um discurso otimista mas eu prefiro ser um otimista do que um pessimista em relação ao que se advém.

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