Suíça: João Ferraz e Diogo Oliveira sobre a pandemia – Covid-19

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João Ferraz e Diogo Oliveira, atualmente no HSC Suhr-Aarau, estão impedidos de sair da Suíça até ao dia 19 de abril devido à pandemia.

Os atletas da Seleção Nacional João Ferraz e Diogo Oliveira estão atualmente a cumprir um período de quarentena, na Suíça. Os jogadores portugueses que atuam no HSC Suhr-Aarau revelaram, em entrevista, como têm sido as rotinas e a opinião acerca do cancelamento das competições nacionais naquele país. João Ferraz, de 30 anos, e Diogo Oliveira, de 22, estão a cumprir a segunda época ao serviço do clube helvético depois de terem deixado a Alemanha para ingressar no Campeonato Suíço na mesma altura.

Diogo Oliveira (DO) – Estou tranquilo. Eu estou aqui na Suíça com a minha namorada, o que facilita as coisas. Claro que é sempre estranho não poder fazer a minha vida normal, não poder ir treinar com a equipa, etc. Mas não tem havido um alarido muito grande aqui.

João Ferraz (JF) – É uma situação complicada. Como já é sabido, o campeonato aqui terminou e não estamos a treinar em grupo. De vez em quando eu e o Diogo vamos andar de bicicleta, fazemos uns treinos físicos. O importante agora é ficar em casa e cumprir as normas estipuladas. Claro que eu tenho esperança que isto passe rápido mas cada pessoa tem que fazer o seu trabalho, não sair de casa e só sair para ir ao supermercado ou à farmácia. Nós jogadores temos que continuar a tentar mantermo-nos em forma e esperar que isto passe o mais rápido possível.

JF – O clube informou-nos que não podemos sair do país, que temos de treinar por nossa conta em casa e que, pelo menos até ao dia 19 de abril, temos que tentar ficar em casa o máximo de tempo possível e sair apenas para comprar os bens essenciais. Para já é tudo que sabemos.

DO – Tenho sentido esta mudança de estilo de vida. Principalmente a saudade de jogar. A nível de treino nem tanto, apesar de ser diferente, tenho treinado bastante aqui ao lado do sítio onde nós vivemos. Temos uma pista de atletismo que ainda não está interdita e por isso tenho treinado tanto ou até mais do que nos treinos ditos normais. Mas sem bola, o que é muito diferente.

JF – Sinto muita falta da competição. Acho que nunca estive tanto tempo parado e já noto no meu corpo que faz muita diferença. Claro que é sempre difícil quando não podemos fazer o que mais gostamos.

DO – Tenho tentado acordar cedo, que é algo que eu não gosto muito (risos) mas agora tenho tanto tempo que tenho feito por isso. Tomo o pequeno-almoço, vou correr de manhã, à tarde faço um treino mais físico e o resto do dia é, praticamente, passado em casa a jogar Playstation.

JF – Tenho a sorte de ter um filho com um ano, o que ajuda nesta altura complicada. Acordo, faço o pequeno almoço e brinco um bocado com ele. Depois faço o almoço, vou ao supermercado, vejo filmes, jogo Playstation e pelo meio faço os meus treinos, claro.

DO – Não há quase ninguém nas ruas. Quando vamos aos supermercados vemos muitas filas à porta e as entradas e saídas dos mesmos estão separadas. Há imenso sítios espalhados para desinfetar as mãos, nota-se já bastante diferença em relação ao que era antes. Penso que a Suiça é o segundo país no mundo com mais infetados por cada milhão de habitantes. Não tenho notado muita polícia nas ruas. Esta semana vi um carro da polícia a fazer a ronda para controlar quem estivesse nas ruas, por esta zona onde moramos, mas nada mais que isso. Mas aqui a população é muito consciente, se é para ficar em casa as pessoas ficam mesmo. É um povo muito correto, obediente e rigoroso.

DO- É uma situação muito chata. Obviamente que são traçados objetivos no início e a meio da época que não vão ser cumpridos por causa desta situação. Não temos campeonato, estávamos na final da taça que também foi cancelada, e por isso é complicado. Mas acho que é o melhor a fazer neste momento e acho que vai acontecer o mesmo em todos os países, mais tarde ou mais cedo. Mas não sinto que seja trabalho desperdiçado porque aprendemos sempre alguma coisa e vai servir para o futuro e para os próximos jogos, mas claro que é um pouco frustrante.

JF – Estar na final da taça e receber a notícia de que as competições acabaram é frustrante. Tínhamos a hipótese de ganhar um título, infelizmente não vais ser possível, ninguém será campeão nem ninguém vai ganhar a taça. É triste mas, ao mesmo tempo, estão a tomar as medidas certas e necessárias para não expandir ainda mais a pandemia. Trabalhámos muitos até aqui e estávamos a fazê-lo bem, a equipa estava muito confiante de que era possível ganhar a taça. Primeiro a final já tinha sido adiada, depois houve a hipótese de jogar apenas com mil adeptos nas bancadas e depois o mais provável era ser à porta fechada. Para ser sincero prefiro não jogar do que ter que o fazer à porta fechada. É um bocado triste mas percebo perfeitamente e agora temos que aguardar e esperar que tudo passe.

DO – Não imagino como é que será depois disto passar. Provavelmente teremos que treinar todos os dias juntos sem ter uma motivação, um jogo, sem ter campeonato. Estou curioso nesse sentido.

JF – Quando regressarmos vai ser preciso tempo para voltarmos a estar em forma, vamos ter que começar quase de início. Vai ser como começar uma época de novo. Temos que continuar a fazer o nosso trabalho em casa para quando regressarmos conseguirmos dar o nosso melhor.

DO – É sempre complicado saber que algum dos meus familiares contrair o vírus mas eu já estou fora de casa há dois anos e por isso a distância não me custa assim tanto. Até acho que o melhor seja não ir para casa neste momento porque aqui há muitos casos e há sempre a possibilidade de algum de nós ficar infetado.

JF – É um pouco frustrante mas com estas novas tecnologias é mais fácil saber como estão as coisas e para já está tudo bem. Temos falado todos os dias com eles. Tenho duas enfermeiras na minha família e, por isso, consigo ter uma opinião um bocado mais aprofundada. Eu talvez sinta mais porque esses familiares lidam diariamente com este vírus no hospital e depois quando vêm notícias de pessoas que não cumprem com o que lhes é pedido, que vão para a praia, por exemplo, ficam um pouco revoltados e eu acabo por partilhar esse sentimento. Estes comportamentos abusivos de algumas pessoas vão acabar por se refletir daqui a umas semanas.

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