Alavarium Love Tiles: “Nenhum campeonato se eleva mais do que o campeonato da vida”

O clube aveirense, que conta com a maior taxa de inscrição a nível nacional, transversal a todos os escalões, concorda com os procedimentos da Federação de Andebol de Portugal, destacando que a saúde estará sempre em primeiro lugar.

Eugénio Bartolomeu, coordenador técnico do Alavarium Love Tiles revelou, em entrevista, como é que o clube decidiu reagir à situação da pandemia tendo em vista a continuidade dos treinos de uma forma diferente. Com os atletas confinados em casa, o clube reuniu esforços juntos dos treinadores para que estes possam acompanhar cada escalão e manter presente a atividade física a partir de suas casas.

“A partir do momento que tivemos esta contingência, logo de imediato pensámos em formas de contacto com os atletas. Cada treinador já tinha um grupo formado nas redes sociais, portanto o contacto é sempre imediato e constante, e a partir daí dissemos logo ao atletas que iria haver trabalho para fazer em casa. É obvio que é relativamente fácil de os motivar uma vez que o facto deles estarem em casa sem grande atividade até é engraçado no primeiro dia mas no segundo deixa de o ser. Nós de imediato colocámos os pés ao caminho. Cada treinador elaborou um conjunto de exercícios para desenvolver durante a semana, ou seja, estipulou um programa semanal e os atletas receberam-no e puderam tirar dúvidas junto dos treinadores. Esses exercícios foram sempre complementados por vídeo ou por esquema para que os atletas tivessem mais facilidade de execução. A partir daí, os próprios atletas vão dando feedback aos treinadores, seja também por vídeo – porque também partilham entre eles vídeos do que estão a fazer – seja por tabelas de controlo, que nós desenvolvemos, no sentido de haver uma noção do trabalho que vai sendo feito.”

Quais são os escalões que estão a ser acompanhados?
“Todos os escalões estão a ser acompanhados nesta altura a partir do escalão de infantis. O escalão de minis está a receber informações também mas são exercícios muito mais básicos, mais ligados à coordenação. Agora, dos infantis aos seniores, masculinos e femininos, todos estão a ser acompanhados diariamente.”

Que balanço faz desta trabalho até agora? Há algum escalão que esteja a ter mais dificuldades?
“Até agora está tudo a correr como planeado, o que nos dá mais motivação para continuar esta metodologia de treinos. Todos os escalões estão a trabalhar praticamente ao mesmo nível. Não tenho nenhum indicador que me diga que haja algum escalão que não esteja tão bem, masculino ou feminino, seja ao nível de intensidade ou de empenho. Todos eles estão a desenvolver o trabalho de forma igual, obviamente adequado às idades.”

O que é que os pais dos atletas pensam sobre este tipo de procedimento? Que mensagens vos transmitem?
“O feedback tem sido positivo porque os pais também têm noção de que o exercício físico é importantíssimo para os filhos. Eles até foram os primeiros a perguntar se, por acaso, nós não estamos a preparar algum método para trabalhar em casa e, no dia seguinte, já estávamos a lançar tudo para todos os atletas. Os pais também estavam preocupados e têm tido uma receptividade enorme que estamos a fazer. Mas já é um hábito do clube. O Alavarium apesar de ser um clube grande é um clube muito familiar e há uma grande proximidade com os pais dos atletas. Eles apoiam-nos e seguem-nos bastante e por isso essa relação fez-se sentir mais uma vez.”

O ano passado, o Alavarium Love Tiles foi o clube com mais atletas inscritos a nível nacional. O facto de haver tantos atletas envolvidos neste tipo de metodologia dificulta, de alguma forma, o trabalho dos treinadores?
“Nós temos cerca de 20 atletas por escalão, uns mais outros menos, mas acaba por não dificultar o trabalho dos treinadores especificamente mas sim a coordenação da estrutura do clube, isso não é fácil. Está programado para próxima semana uma reunião de treinadores, via videoconferência, para termos uma noção mais fidedigna de como está tudo a decorrer e há ainda outra situação que me parece relevante e que nós fazemos várias vezes no clube, que é a partilha de experiências. Ou seja, um treinador de um determinado escalão expõe os pontos positivos e negativos de um determinado exercício que está a realizar e outro colega de outro escalão ajuda ou é ajudado no sentido de cada um aperfeiçoar cada exercício que está a realizar. Esta partilha também é fundamental.”

Com que frequência acontecem estes treinos?
“Do escalão de juvenis até aos seniores temos feito entre 4 e 5 treinos semanais, sendo que, regra geral, a quarta-feita é dia de folga. Já o escalão de seniores está em atividade também no fim de semana.”

Em termos de perspetiva de futuro, como é que acha que esta situação vai afetar o clube e a competição?
“Esta é uma situação que não se pode colocar em causa porque estamos a falar da saúde pública e portanto, a saúde obriga-nos a ter todo o cuidado e seriedade. Em termos de consequências futuras, é uma realidade, desde logo em termos financeiros. Todos os clubes, penso eu, terão graves problemas porque toda a economia vai-se ressentir e, por isso, os clubes vão ser arrastados por isso mesmo. E depois acabará por nos trazer várias dificuldades extra. A primeira é o facto de os atletas se sentirem confortáveis psicologicamente no regresso aos treinos, porque as pessoas vão andar um pouco intranquilas, nos primeiros tempos em que deixarmos de ter todos estes problemas e acredito que não será de um momento para o outro que as pessoas vão abandonar os cuidados de saúde todos. O primeiro passo será os nossos atletas sentirem tranquilidade em voltar a um treino coletivo. Outra das dificuldades que já identificámos é em termos de escalões de formação, o facto de os pais dos atletas mais novos se sentirem à vontade para levar os filhos para o treino sabendo que estamos a sair de um período de quarentena. Apesar de os atletas dessas idades não serem, à partida, um grupo de risco. Por fim, outra situação que nos poderá causar dificuldades é a captação de atletas, pelo mesmo motivo. Se calhar os pais, nos próximos meses, vão talvez resguardar mais os filhos e tentar colocá-los num desporto coletivo pode não ser uma opção primária. Mas cá estaremos nós para desmistificar tudo isso e para trazer tudo a normalidade, o mais rapidamente possível.”

Concorda com a decisão da Federação de Andebol de Portugal em continuar a com os campeonatos suspensos em vez de os dar por terminados?
“Eu concordo que deve haver a maior reflexão, concordo que a saúde está primeiro e que nenhum campeonato se eleva mais do que o campeonato da vida. E portanto, para já concordo que as competições devam estar suspensas e quando for tempo a Federação e os clubes devem ponderar de que forma esses problemas serão ultrapassados. Neste momento, o que tinha que ser feito foi feito e bem feito, foi a suspensão de tudo e depois, quando pudermos todos regressar à normalidade logo se vê. Mas primeiro está sempre a saúde.”

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