Uma bazuca para o desporto

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Veja aqui o artigo de opinião de Miguel Laranjeiro, Presidente da Federação de Andebol de Portugal, no jornal Público.

Começando pelo título. Portugal precisa mesmo de uma bazuca para o Desporto. A situação é de quase total paralisia da atividade desportiva federada, com implicações brutais, quer na sobrevivência de muitas estruturas e clubes, quer na diminuição gritante da atividade física e desportiva dos mais jovens, com consequência inevitáveis no futuro. Consequências aliás já assinaladas pela própria ONU e onde Portugal, infelizmente, nunca esteve muito bem.

Precisamos de apoios públicos para ajudar a manter a atividade de uma grande parte dos clubes amadores no país, baseados em dirigentes, treinadores e pais, que trabalham de forma gratuita e voluntária, mas que não podem ser requisitados para pagar do seu bolso um recomeço doloroso.

São os clubes que garantem a atividade física e desportiva de centenas de milhares de jovens, o que tem um valor em si mesmo, nunca valorizado, mas que o SNS rapidamente saberá quantificar. Este trabalho de anos, de décadas, pode ir “por água abaixo”, se não for socorrido. A paragem de pelo menos seis meses na formação, em muitas modalidades, pode ser verdadeiramente dramática para a continuação de projetos e vontades.

Todos percebem que o apoio ao Desporto federado não tinha que ser a primeira prioridade na atenção dos responsáveis. Até agora estavam todas as estruturas e iniciativas ligadas à salvaguarda de saúde pública. De acordo, mas estamos agora numa nova fase. Temos de fazer tudo para que ao sairmos da pandemia da Covid-19, não caiamos na pandemia da obesidade, do excesso de peso e de todos as doenças associadas e que se prolongarão no tempo. Não caiamos na situação de arruinar imensos projetos em todo o país e de difícil recuperação.

O Comité Olímpico de Portugal (COP), em boa hora, publicou um conjunto importante de sugestões para ir ao encontro das necessidades prementes. Um Fundo Especial de Apoio ao Desporto e uma redefinição dos valores das apostas que vão para o Desporto são duas propostas no bom sentido. É preciso dizer que apenas uma pequena (pequeníssima) parte do valor das apostas nos jogos das diversas modalidades é que regressa ao Desporto. 

Precisamos de modelos que promovam a sustentabilidade do desporto, pois é a única atividade humana que concilia, simultaneamente, dimensões como a saúde e o bem-estar, a formação dos jovens, a integração social e a igualdade de oportunidades e de género, que tem um efeito muito relevante na economia e na criação de emprego e ainda na projeção do território local ou nacional. O desporto tem menor projeção e menos palco mediático que outras dimensões da sociedade (culpa nossa), mas deve ser tido com a mesma atenção.

O Desporto não tem sido considerado como uma prioridade, um desígnio nacional para o qual todos devessem olhar. Não. Ou são as polémicas do futebol, semanalmente consideradas e muito valorizadas, ou pouco resta. A atual situação de pandemia está a servir para todos vermos que o país até vive sem o tal futebol de bancada ou de sofá, mas vive bem pior sem a essência do desporto, como tal considerado. Tenhamos a coragem de mudar. E este pode ser o momento.

Precisamos de uma “bazuca” para o Desporto? Sim. Precisamos que o Governo, as Autarquias e as estruturas nacionais olhem para a melhor forma de recuperar a dinâmica perdida. 

Precisamos de mensagens de confiança dos agentes políticos. Depois dos transportes públicos, escolas, restaurantes, ginásios, feiras, praias, igrejas, serviços públicos, é urgente que comecem a falar na confiança que podemos ter em regressar aos treinos nos pavilhões. 

Precisamos de abordar temas como o financiamento da atividade, o mecenato desportivo, o custo do policiamento dos eventos desportivos, o papel do Desporto Escolar, as transmissões televisivas no canal público, entre outras, mas agora do que se trata é mesmo de salvar os projetos que existem.

Como referia o COP, “é necessário confirmar a aposta no desporto como atividade social relevante e merecedora do apoio indispensável”. Concluo com a resposta à pergunta do título: sim, é necessária uma bazuca para o Desporto em Portugal.

Miguel Laranjeiro
Presidente da Federação de Andebol de Portugal

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