A Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) disponibilizou-se para receber as atletas da Seleção Nacional A Feminina presentes nas duas semanas de estágio de preparação para os jogos com a Eslovénia, para um conjunto de avaliações rigorosas, para que seja possível qualificar com mais precisão o desempenho das mesmas ao longo do tempo e aproximar o patamar do nosso andebol feminino da elite internacional. Durante dois dias (21/02 e 28/02), a maioria das jogadoras convocadas por José António Silva foram avaliadas no Laboratório de Biomecânica do Porto (LABIOMEP), sob a supervisão de João Paulo Vilas-Boas, professor catedrático de biomecânica na FADEUP e diretor do LABIOMEP.
“O que nos foi proposto foi que tentássemos encontrar uma bateria de testes, que não é exaustiva, que nos ajudasse a avaliar o estado atual de desempenho das jogadoras e monitorizar ao longo do tempo a evolução desses variáveis. Isto permite-nos e é nosso objetivo, apesar da literatura internacional ser relativamente escassa, especificamente de atletas andebolistas internacionais, de elite, criar testes variados com aqueles que estão disponíveis na literatura e perceber, de entre aqueles que foram considerados relevantes pelo professor José António Silva, a que distância é que estamos, ou se já estamos à frente dos valores publicados de referência internacional. Juntámos mais algumas variáveis que nos pareceram importantes, à Seleção Nacional e ao laboratório, e essa bateria de testes irá permitir, neste primeiro estágio, perceber o que é que podemos aconselhar que seja mais trabalhado e, num próximo estágio, procurar saber se aquelas variáveis evoluíram na medida do que pretendemos ou não e se outras – eventualmente – continuaram a evoluir, estabilizaram ou involuíram. A ideia é tentar ajudar o mais possível, de forma a objetiva, as nossas jogadoras a aproximarem-se da elite internacional e, se possível, ultrapassá-la.” – explicou.
As avaliações realizadas incidiram no domínio fisiológico, funcional e biomecânico. Em termos de capacidades condicionais mais triviais, foi avaliada a potência aeróbia, em corrida em tapete rolante, com medição objetiva – respiração a respiração – do consumo máximo de oxigénio e, em simultâneo, medida a lactatomia máxima ao consumo máximo de oxigénio.
Depois, o teste de impulsão vertical, “que nos dá uma ajuda séria para percebermos a potência dos membros inferiores sem coadjuvação dos membros superiores no salto. Estamos a juntar ao salto vertical o salto horizontal, porque existem essas duas vertentes nesta modalidade, juntamos depois força e potência dos membros superiores, equilíbrio de rotadores internos e externos, para precavermos certo tipo de lesões”. Acrescenta-se ainda o lançamento da bola medicinal em distância, para coadjuvar com o teste simples de terreno, que pode ser utilizado no dia-a-dia de treino.
Para além de uma caracterização antropométrica exaustiva das atletas, há ainda uma outra valência mais ‘peculiar’ a ser posta em prática, que passa por uma fotografia 3D de cada uma delas: “Estas coisas têm que ter sempre um contraponto de investigação, ou seja, paralelamente vamos fazer correr alguns projetos de investigação e um deles é desenvolver um algoritmo de inteligência artificial que permita extrair a partir de imagens 3D, todas as variáveis antropométricas de interesse, em minutos.” – explicou o professor de 62 anos.
Do ponto de vista da equipa técnica da Seleção Nacional A Feminina, a fisiologista Sofia Osório, parte integrante do núcleo duro da equipa lusa, realça a transversalidade deste tipo de acompanhamento para criar referência para a formação: “Com estas avaliações conseguimos descortinar o perfil físico e fisiológico das atletas da Seleção Nacional A e o objetivo é perceber o estado em que cada uma se encontra para, posteriormente, podermos ajudar na prescrição de exercício direcionada para a nossa modalidade. Um dos pontos fulcrais deste tipo de acompanhamento, para além dos benefícios a curto prazo e aplicáveis ao momento atual, é a construção de uma base de dados que possa servir de referência às seleções jovens.”
Tal como explica o professor João Paulo Vilas-Boas, as três premissas que fazem parte da identidade da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto estão a ser cumpridas e, por isso, destaca a relevância deste união de esforços para o desenvolvimento de programas de investigação.
“Para nós tem toda a importância. Primeiro, porque estamos a prestar um serviço que me parece relevante à comunidade, neste caso à comunidade que nos importa mais que é a comunidade desportiva nacional de alto nível. E, por outro lado, o facto de, quer a Federação de Andebol de Portugal, quer as atletas, acharem por bem autorizar a possibilidade de serem utilizados – despersonalizadamente – os dados em investigação científica, ajuda-nos a desenvolver programas de investigação, mais simples ou menos simples, mas que ajudam a promover academicamente os nossos estudantes de mestrado e de doutoramento. A nossa primeira missão é ensinar, a segunda é investigar e a terceira é prestar serviços relevantes à comunidade.” – finalizou.